Não sei como iniciar esta história. Impossível prever a sua introdução, desenvolvimento e conclusão. Impossível definir número de caracteres e páginas. É uma história escrita ao ritmo do improviso e inspiração. Começo então por dizer que Maria Joana era meu nome de guerra, até ser ferida mortalmente por dois tiros que me furaram os miolos. Ou terá sido um pouco mais abaixo, em plena cana do nariz? Não sei! Fiquei um pouco confusa com o sucedido. Foi tudo tão rápido e frio, quase não senti dor! De qualquer modo, antes de sentir o cheiro e a leveza da morte sussurrei a quem me assassinou: “por respeito à nossa inimizade eterna, pela dignidade que me resta, apelo que me deixes reencarnar em ti para contar ao universo aquela que foi a minha história. Prometo que não me vingarei, honrarei todo o ódio que de nós se apoderou. Contarei o que fui e logo depois me elevarei até ao buraco negro”. Assinámos um pacto, mediante o contacto visual, dei o meu último suspiro de vida e alívio, fechei os olhos e reencarnei aquele que em vida me odiou com toda a sua dignidade. Quero com isto dizer que este indivíduo onde parasito temporariamente, no fundo era meu único amigo, porque sempre me enfrentou com a sua verdade, nunca me apunhalou pelas costas e avisou-me que um dia me mataria. Eu sabia que ele o conseguiria. Mesmo assim lutei pelo meu nome.
Maria Joana! Era este o meu nome de guerra! E assim finaliza minha história.
No princípio era o verbo Nascer. Nasci numa aldeia de Trás-os-Montes em 1939, numa família numerosa. Meus pais adoravam os seus filhos e discutiam muito entre si. Contudo, sabiam que não tinham mais nada, para além do seu casamento e dos putos barulhentos que precisavam de criar. Apesar de tudo, éramos felizes à nossa maneira. Brincávamos tanto, quanto trabalhávamos na terra e ainda íamos à escola. Sim! Conseguimos ir à escola e todos fizemos o exame da quarta classe com sucesso. Adorávamos cantar e dançar. O meu irmão mais velho tocava cavaquinho e sempre que havia bailarico na aldeia, eu dançava como criança feiticeira e ele tocava como um duende encantado. Vivíamos num mundo alegre, onde não passámos necessidade porque não éramos supérfluos. Produzíamos o que comíamos. O carro de mercearia passava uma vez por semana e só nessa altura podíamos aceder a outros géneros alimentares, como arroz, sardinhas e polvo. Nem sempre adquiríamos esses bens, porque os bolsos frequentemente se encontravam vazios de tostões. E que nos importavam os bolsos rotos, se tínhamos a alma preenchida? Criámo-nos e os bens essenciais não nos faltaram. Cultivávamos batatas, milho, nabiças, cenouras, abóboras, cebolas e tínhamos árvores de frutos. Criávamos animais e fomos felizes, eu e os meus irmãos naquele pequeno mundo que nos parecia encantado!
Ana Teresa Pinto Lousada
(Vou esforçar-me por continuar a história. Amigos e visitantes, preciso das vossas opiniões. Obrigada!)