quinta-feira, março 30, 2006

Vida e Morte

Vida quase me abandona por um fio por entre peão de carro em chão escorregadio... derrapa e bate levemente, sinto morte espreitando sorridente.

Continuo o caminho confusa, lembrando mal e bem. Amo-te vida e não quero negócios de morte. Não sou dela ainda, não me vendo e nem me rendo. Sou tua vida alegre, triste, pacífica, agressiva, bonita, feia, jovem ou velha.

Amar-te-ei sempre minha vida, mesmo que um dia a morte me sorria e me afirme convicta que tem que ser…. Querer não é poder! Poder é viver enquanto puder ser…
Natura

sexta-feira, março 17, 2006

Amor eterno de mulher agredida

Meu amor,
Não gosto mais de ti quando me bates, porque quando me bates sinto que fiz algo de errado. Provavelmente não gostaste do jantar que te preparei com tanto carinho. No fundo sinto que não te mereço e por isso me agrides.
És melhor do que eu em tudo e só tenho que ter orgulho por me ter casado contigo. Sei que no trabalho todos os teus colegas te adoram e os teus amigos dizem que és um homem com H muito grande, raro de encontrar. Orgulho-me de ti e tenho vergonha por ser tão estúpida e ignorante… tenho tanta vergonha de não saber falar, não me saber vestir nem conseguir arranjar o cabelo... tenho vergonha de não ser bonita e atraente e de não conseguir sorrir para os vizinhos. Não imaginas como me sinto tão mal à beira das outras mulheres. É por isso meu amor que te dou razão quando me bates e me dizes que sou o pior que te podia ter acontecido.
Sabes, antes de nos casarmos quando me davas um estalo nos momentos em que eu te questionava, minha mãe dizia que uma boa esposa tem que obedecer sempre ao seu marido e nunca fazer perguntas estúpidas. Eu sempre te obedeci meu amor, nunca questionei as tuas atitudes e até te defendi quando no hospital me perguntaram se tu me batias. Meu amor insultei-os porque os odiei naquele momento. Sabem lá eles o que é o amor. Não sabem e não me compreendem. Eu sou diferente deles, porque eu amo e me entrego totalmente a ti. E é assim que deve ser o amor. Ninguém compreende que amar me dói, mas é tudo que tenho na vida! O meu amor por ti é tudo o que tenho e nem sequer me importo que me batas, porque sei que quando isso acontece é porque tens os teus motivos. É por ti e para ti que vivo e mesmo que não me ames, quero que saibas que estarei a teu lado até não me quereres mais. Compreenderei se um dia me deixares. Mas tenho tanto medo que te vás embora! Se me abandonares, que faço à minha vida meu amor? Para quem irei cozinhar com tanto carinho?

Natura

terça-feira, março 14, 2006

Eterna relação de amor/ódio

Amo-te tanto mundo! Porque não me acarinhas meu mundo? Tudo o que desejo é ser parte integrante da tua paz. Constróis muros, labirintos e recintos escuros que confundem minha mente que tanto deseja encontrar tua alma.

Olho para dentro, ansiando encontrar tua essência, mas tudo o que mostras são cicatrizes ou crostas de feridas profundas. Chagas mal curadas e fecundas de dor. Não te odeio mas canso-me e sento-me para relaxar e não olhar. Não me odeies assim, afasta tuas trevas com teus raios de sol e deixa-me sorrir! Porque não te transforma em paraíso para que seja mais fácil amar-te?
Natura

domingo, março 12, 2006

Terra quente de harmonia

Pertenço a ritmo de terra quente embalado por batuques emergentes na harmonia de planeta azul. Viajo até ao centro sentindo terra quente equilibrar, unindo fendas que separam partes que se tornaram frias por ausência de calor. Ritmo de terra que é batuque apela à harmonia que não fuja por entre fendas que insistem em se transformar em grande buraco negro onde habita o medo e degredo de trevas mais profundas que o próprio infinito. Buraco de negro infinito vai fechar porque harmonia quer reinar em minha terra quente de amor!
Natura

segunda-feira, março 06, 2006


O Direito de Ser Criança

Todas as crianças com mais de cinco anos têm direito a desabafar.
Todas as crianças até aos onze ou doze anos têm direito a andar grátis no Carrocel quando estão de férias.
Todas as crianças que andam na Escola têm direito a serem alegres, terem amigos e a brincarem com os outros. Têm o direito a ter uma Professora que não grite com elas.
Todas as crianças têm direito a ver o Mar verdadeiro, especialmente em dia de maré vazia.
Todas as crianças têm direito a, pelo menos uma vez na vida, escolher um chocolate que lhes apeteça.
Todas as crianças têm direito a terem orgulho na sua existência.
Todas as crianças têm direito a pensar e a sentir como lhes manda o coração, até serem velhas, aí com uns vinte anos.
Todas as crianças têm direito a terem em casa o Pai e a Mãe, os irmãos (se houver) e a comida. Se o Pai e a Mãe não conseguirem viver juntos têm direito a que cada um deles respeite o outro.
Todas as crianças têm direito a deitarem-se no chão para ver as nuvens passar, imaginando formas de todos os bichos do Mundo combinadas com as coisas que quiserem (por exemplo, um cão a andar de patins ou uma girafa de orelhas compridas).
Todas as crianças têm direito a começar uma colecção não interessa de quê.
Todas as crianças têm direito a chupar o dedo indicador que espetaram num bolo acabado de fazer ou então a lamber a colher com que raparam a taça em que ele foi feito.
Todas as crianças têm direito a tentarem manter-se acordadas até tarde numa noite de Verão, na esperança de ver uma estrela cadente e pedirem três desejos (a justiça devia acontecer sempre pelo menos um).
Todas as crianças têm direito a comer a fatia do meio das torradas de pão partidas em três.
Todas as crianças têm direito a escrever ou a falar uma linguagem inventada por elas (ou que julgam inventada por elas), como por exemplo a linguagem dos pés: “apa linpingupuaoagempem dospos pêspês”.
Todas as crianças têm direito a imaginar o que vão querer fazer quando forem grandes e a perguntar aos adultos «o que queres fazer quando fores pequenino?»
Todas as crianças têm direito a dormir numa cama sua, sentindo o cheiro a roupa lavada, e a um terem espaço próprio na casa, pelo menos a partir do ano de idade.
Todas as crianças têm direito a passear na rua tentando pisar apenas o empedrado branco (ou só o preto); em opção, têm direito a fazer uma viagem contando quantos carros vermelhos passam na faixa contrária.
Todas as crianças meninos têm o direito a, pelo menos uma vez na vida, perguntar a uma menina «queres ser minha namorada?» e todas as crianças meninas têm direito a, pelo menos uma vez na vida, responder «sim, quero».
Todas as crianças têm direito a ouvir um adulto contar pelo menos uma destas histórias: Peter Pan, O Principezinho ou O Príncipe Feliz.
Todas as crianças têm direito a ter alegria suficiente para imaginar coisas boas antes de dormirem e depois, a sonharem com elas.
Todas as crianças têm direito a ter um boneco de peluche preferido, especialmente quando velho, já lavado e mesmo com um olho a menos.
Todas as crianças (especialmente se já adolescentes) têm direito a usar ténis preferidos, mesmo que rotos e com cheiro tóxico.
Todas as crianças têm direito a poder tomar banho sozinhas e a experimentar mergulhar na banheira contando o tempo que aguentam sem respirar.
Todas as crianças têm direito a jogar aos polícias e ladrões, preferindo inevitavelmente serem ladrões.
Todas as crianças têm direito a terem um colo onde se possam sentar, enroscar como numa concha e receber mimos.
Todas as crianças têm direito a nascerem iguais em direitos.
Todas as crianças têm direito a conhecer o sítio onde nasceram e a visitá-lo livremente.
Todas as crianças têm direito a não ficarem sozinhas a chorar.
Todas as crianças têm direito a viver num País que tenha um Ministério da Infância e da Juventude, que olhe verdadeiramente pelo seu crescimento afectivo e bem-estar interior (sem preconceitos adultocêntricos ou hipocrisias com ares de cromo abrilhantado).
Todas as crianças têm direito a acreditar que têm um adulto que olha por elas e as ama sem condição prévia (nem que seja Nosso Senhor).
Todas as crianças têm direito a viver felizes e a ter paz nos pensamentos e sentimentos.”

Pedro Strecht, Crescer Vazio, 1997

quinta-feira, março 02, 2006

Querer é poder?

Sabes o tempo que irá fazer amanhã? Hoje o sol irradia, amanhã chove e depois de amanhã não sei… Meu coração irá deixar de bater? Irei viajar até ao outro lado ou irei regressar ao passado? Continuarei a viver um bocadinho de cada vez ou quanto mais tiver mais desejarei ter?

Imprevisível é tudo o que se desfaz num segundo. Desejar ter para perder tudo em breves instantes. Vento de mudança sopra em tudo o que é canto! É só hoje que vivo porque amanhã levar-me-ão a vida, mesmo sem eu querer. Querer não é poder. Poder é viver enquanto puder ser!
Até breve!

quarta-feira, março 01, 2006

As Mãos

"Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e desfaz.
Com mãos se faz o poema - e são de terra.
Com mãos se faz a guerra - e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedra estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade".

Manuel Alegre, O Canto e As Armas, 1967

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