sábado, agosto 01, 2009

O vale do desassossego

"Houve outrora um vale silente
Onde não morava gente;
Tinham ido pelejar,
Confiando ao céu estelar
Em seus nocturnos esplendores
A vigilância das flores,
E nelas durante o dia
O Sol rubro se estendia.
Agora, quem quer que o visite
Acha um vale insone e triste.
Nada tem que não se agite,
Salvo o ar, tão taciturno.
Sobre o feitiço nocturno.
Ah, nenhum vento move aqueles ramos
Que raivam, com os frios oceanos
Pelas Hébridas nubladas!
Ah, nenhum vento move as nuvens pardas
Que roçagam pelo céu em tropelia,
De manhã ao fim do dia,
Sobre as violetas deitadas
Tais pupilas variegadas...
Sobre os lírios, que assenam e assomam
E choram túmulos sem nome!
Acenam das corolas, tão fragantes,
Escorrem gotas de orvalho incessantes.
Choram: e dos seus caules, tenros, frágeis,
Corre um pranto de gemas infindáveis".

Edgar Allan Poe

Free Hit Counter