sexta-feira, novembro 23, 2007

Inês

Inês teria hoje 31 anos. Em Novembro de 1997 optou por não continuar com a sua vida.

A minha compreensão sobre a sua opção:

Quem espera raramente desespera, porque enquanto espera olhará para o infinito e sonhará para além do horizonte invisível a olho nu. Assim fez Inês, então com 21 anos de inconsciência e gritos abafados… sonhou, sonhou e sonhou até que levantou um voo tão alto quanto o do seu anjo protector.
Foi mesmo assim que Inês ofereceu um rumo à sua vida, deixando de pintar suas gotas de sangue abstractas, muito vivas, em tela desprovida de sentimento.
Disse Inês após a hora do seu voo:
- Sim! Foi assim que decidi voar. Pertenço agora a lugar nenhum, sou apenas alma que acompanha o meu dakini. Duzentos e cinquenta e dois meses sonhando… quis ser feliz, só quis ser feliz e apenas rotularam o frasco onde contive minha dor. Fui doente, mental ou não, dizem que fui doente e para além disso amei minha mãe e meu pai e meu irmão e minha irmã, aconchegando meu coração com seu amor. Deram-me tudo o que podiam dar, excepto o que mais desejava encontrar: o sítio onde pertenço. Descobri que não tenho lugar, apenas uma conjunção de átomos eu sou, poderei então existir em qualquer dimensão. Lembro-me dela, a ponte de ligação para a outra dimensão, sobrevoando o Douro… fui feliz nesse instante… percebes que assim fui feliz? Não foi acto de egoísmo, mas sim de libertação…
Lembro-me de ver… dissecaram meu coração. Olharam com espanto ao descobrir seu espaço vazio, ausente de artérias, de ritmo, de sangue ou de vida… viram meu coração seco e minha alma liberta.
Não preciso que chores, porque fui feliz nesse segundo em que libertei a minha alma, devolvendo meu corpo à terra. Sorri antes quando te lembrares da minha eterna existência. Bem sabes que sou imortal! Apenas voei até aquele lado sem, no entanto, te perder de vista. Tenho saudades de ti mundo, porque te amei até ao último minuto terrestre, mas não te pertenço…
E para sempre Inês se libertou do seu invólucro material… Sabes Inês, que cada vez que uma porta se fecha, uma janela maior que a porta fechada se abre? Fecharam-te a porta para o mundo? Que outra janela maior que a porta trancada te abriram?
Ana Teresa P. Lousada
(Postei este texto uma vez mais, pelo facto de Inês ter desaparecido há dez anos).

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