sábado, setembro 05, 2009

A ilha encantada

Vivo numa ilha em que todos os seres humanos que me são próximos se extinguem a cada estação que passa.

Outrora aqui residia uma diversidade de gente real e imaginária em harmonia e sintonia e eu deambulava por todos os verdes cantos na primavera e no outono procurava folhas caducas que serviriam de molde para dar vida a um papel branco, o qual ansiosamente apelava à dádiva da cor, significado, sentido e representação. Distraída com tamanhas tarefas, perdia-me no tempo e a vida fluía na minha ilha multicolor.

Pintava arcos-íris, casas sem lareira, onde alegremente coexistiam chaminés que orgulhosamente expeliam sinais de fumo; pintava muitas árvores, flores e o sol a sorrir para todos os autóctones daquele fantástico lugar e, mais ainda, desenhava o meu amigo imaginário com o qual brincava quando os meus vizinhos se encontravam ocupados. Era assim que a alegria fluía na minha ilha multicolor.

Todos os habitantes possuíam uma função. Os adultos procuravam alimentos sempre com um sorriso porque nós, crianças, por si geradas, embelezávamos as suas vidas com as nossas correrias e gritarias estridentes. Bastava querer e todo o nossa imaginação transbordava para a vida real, sendo a metamorfose assente na real felicidade. Era esse o labor de toda gente que pretendesse ser criança e, assim, o amor fluía na minha ilha multicolor.

Excluídos não existiam, porque a ilha proporcionava o entendimento entre todos os que nela habitavam e, com esse efeito, a compreensão fluía na mina ilha multicolor.

Era perfeito este lugar onde o fantástico e o real eram no fundo o complemento um do outro. Terá sido algum deus que na minha mente delineou este cenário edénico? Fui crescendo e alguns dos nossos rendiam-se à material evolução; exploravam lugares onde aparentava emergir a vida facilitada, enquanto eu aqui permanecia, sentindo, penosamente, a partida para outros locais dos meus queridos amigos reais, nos quais os seus pais construíam casas onde chaminés só faziam sentido se houvesse uma lareira por capricho.

Por esses e outros episódios, cada vez mais frequentes, acordei para a vida bela e limitada em que as pessoas morriam, mesmo que eu gostasse muito delas e o meu amor não as salvava, simplesmente de nada valia. Por que razão tinha eu de ficar sem os meus entes que construíram a felicidade na minha ilha? Foi então que descobri a preocupação instalada no meu coração: a vida, a alegria, o amor e a compreensão esmorecem sempre que alguém parte e outros receiam a aventura por lugares sombrios ou desérticos, em que outrora mil cores brilharam.

Assim se encontra isolado este belo lugar desencantado, onde os seus habitantes cada vez mais raros se perdem entre recordações de tempos idos. O real não coexiste com o fenomenal e o sangue nas veias seca, assim como os rios nos seus leitos, ávidos de frescura.

Ana Teresa Pinto Lousada

1 Comments:

Blogger PP said...

Cá estou eu de volta Ana, para mais uma aventura... Já estás na lista dos meus favoritos

***

Do amigo vermelho :)

25 novembro, 2009 15:17  

Enviar um comentário

<< Home


Free Hit Counter