Amor eterno de mulher agredida
Meu amor,
Não gosto mais de ti quando me bates, porque quando me bates sinto que fiz algo de errado. Provavelmente não gostaste do jantar que te preparei com tanto carinho. No fundo sinto que não te mereço e por isso me agrides.
És melhor do que eu em tudo e só tenho que ter orgulho por me ter casado contigo. Sei que no trabalho todos os teus colegas te adoram e os teus amigos dizem que és um homem com H muito grande, raro de encontrar. Orgulho-me de ti e tenho vergonha por ser tão estúpida e ignorante… tenho tanta vergonha de não saber falar, não me saber vestir nem conseguir arranjar o cabelo... tenho vergonha de não ser bonita e atraente e de não conseguir sorrir para os vizinhos. Não imaginas como me sinto tão mal à beira das outras mulheres. É por isso meu amor que te dou razão quando me bates e me dizes que sou o pior que te podia ter acontecido.
Sabes, antes de nos casarmos quando me davas um estalo nos momentos em que eu te questionava, minha mãe dizia que uma boa esposa tem que obedecer sempre ao seu marido e nunca fazer perguntas estúpidas. Eu sempre te obedeci meu amor, nunca questionei as tuas atitudes e até te defendi quando no hospital me perguntaram se tu me batias. Meu amor insultei-os porque os odiei naquele momento. Sabem lá eles o que é o amor. Não sabem e não me compreendem. Eu sou diferente deles, porque eu amo e me entrego totalmente a ti. E é assim que deve ser o amor. Ninguém compreende que amar me dói, mas é tudo que tenho na vida! O meu amor por ti é tudo o que tenho e nem sequer me importo que me batas, porque sei que quando isso acontece é porque tens os teus motivos. É por ti e para ti que vivo e mesmo que não me ames, quero que saibas que estarei a teu lado até não me quereres mais. Compreenderei se um dia me deixares. Mas tenho tanto medo que te vás embora! Se me abandonares, que faço à minha vida meu amor? Para quem irei cozinhar com tanto carinho?
Natura
Natura
2 Comments:
tem o olhar escondido na inquietação da luz
guarda no peito o sossego dormente das pedras
um ombro de sombra dá-lhe frescor á boca ...
mas se ao morrer a abrissem ao meio
nada encontrariam
nem visceras nem ossos nem sangue
apena poalha de água
e a dor da infindável travessia
de uma vida a seu amado dedicada...
titus
Bem, minha amiga, eu comecei a ler o teu blog, e estava a gostar, até chegar a este post. Não consigo ler mais, não agora.
Devo dizer-te que me marcou.
Sempre tive presente a noção que a violência domestica é reprovavel, mas nunca a vi deste modo.
Não faço ideia de onde veio este texto, mas ele faz nascer e crescer sentimentos em mim, sentimentos contraditórios, devo acrescentar.
Faz-me sentir uma compaixão por uma mulher que tem tanto sentimento, tanto carinho, e que tem uma visão tão negativa de si mesma, e ao mesmo tempo, um ódio por um homem que se esconde atrás de uma máscara, uma imagem que não se coaduna com a realidade.
Muito obrigado, minha amiga, por este texto, por esta imagem perturbadora mas, acredito eu, tão real quanto oculta.
Alex (lynx)
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